Busca

Cookie Policy
The portal Vatican News uses technical or similar cookies to make navigation easier and guarantee the use of the services. Furthermore, technical and analysis cookies from third parties may be used. If you want to know more click here. By closing this banner you consent to the use of cookies.
I AGREE
Finale: Andante maestoso - Allegro vivace
Programação Podcast
Papa Francisco em oração no Memorial da Paz de Hiroshima (2019) Papa Francisco em oração no Memorial da Paz de Hiroshima (2019)

Rearmamento e escudo nuclear: as palavras de Francisco

“Como podemos propor a paz se usamos continuamente a intimidação bélica nuclear como recurso legítimo para a resolução de conflitos?”

Andrea Tornielli

Os ventos de guerra, o rearmamento com o uso de enormes investimentos, propostas para o relançamento de armas nucleares... Impressiona a forma como a corrida armamentista é apresentada na Europa e no mundo, como se fosse uma perspectiva inexoravelmente necessária, a única viável. Depois de anos de silêncio na diplomacia e a ausência da capacidade de negociação, parece que o único caminho viável seja o rearmamento. Perturbam-se pais fundadores como Alcide De Gasperi, que apoiava a criação de um exército europeu comum para justificar iniciativas muito diferentes, que não veem a União Europeia como protagonista, mas sim cada um dos Estados. Volta-se a falar de “escudo nuclear” e “dissuasão”, o que revive os piores cenários da Guerra Fria, mas em um clima de maior instabilidade e incerteza do que no século passado, com o abismo de uma Terceira Guerra Mundial cada vez mais próximo. Nos últimos anos, com lucidez profética, o Papa Francisco viu o perigo se aproximando. Suas palavras são iluminantes para a compreensão do momento que estamos vivendo. Damos voz ao Papa, que, internado no Hospital Gemelli, oferece seus sofrimentos e suas orações pela paz no mundo.

“É um dado de fato – disse Francisco em novembro de 2017 – que a espiral da corrida aos armamentos não conhece trégua e que os custos de modernização e desenvolvimento das armas, não só nucleares, representam um item considerável de despesa para as nações, a ponto de ter que pôr em segundo plano as prioridades reais da humanidade sofredora: a luta contra a pobreza, a promoção da paz, a realização de projetos no campo da educação, da ecologia, da saúde e o desenvolvimento dos direitos humanos... As armas que têm como efeito a destruição do gênero humano são inclusive ilógicas a nível militar”.

Em novembro de 2019, em Nagasaki, cidade mártir da bomba atômica, o Bispo de Roma afirmava: “Um dos anseios mais profundos do coração humano é o desejo de paz e estabilidade. A posse de armas nucleares e outras armas de destruição de massa não é a melhor resposta a este desejo; antes, parecem pô-lo continuamente à prova. O nosso mundo vive a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo”.

E acrescentava: “A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir de uma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço de um futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã”.

Também em novembro de 2019, em Hiroxima, Francisco lembrou, fazendo suas as palavras do Papa Paulo VI, que a verdadeira paz só pode ser uma paz desarmada:

“De fato, se realmente queremos construir uma sociedade mais justa e segura, devemos deixar cair as armas das nossas mãos: ‘Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos’ (São Paulo VI, Discurso às Nações Unidas, 4/X/1965, 5). Quando nos rendemos à lógica das armas e afastamos da prática do diálogo, esquecemo-nos tragicamente que as armas, antes mesmo de causar vítimas e ruínas, têm a capacidade de provocar pesadelos, ‘exigem enormes despesas, detêm os projetos de solidariedade e de útil trabalho, falseiam a psicologia dos povos’ (Ibid., 5). Como podemos propor a paz, se usamos continuamente a intimidação bélica nuclear como recurso legítimo para a resolução de conflitos? Que este abismo de sofrimento evoque os limites que jamais se deveriam ultrapassar. A verdadeira paz só pode ser uma paz desarmada!”.

A voz do Sucessor de Pedro, continuava, é “a voz daqueles cuja voz não é escutada e que olham, com preocupação e angústia, as tensões crescentes que permeiam o nosso tempo, as desigualdades inaceitáveis e injustiças que ameaçam a convivência humana, a grave incapacidade de cuidar da nossa casa comum, o contínuo e espasmódico recurso às armas, como se estas pudessem garantir um futuro de paz”.

Depois, a condenação não apenas do uso, mas também da posse de armas nucleares que ainda enchem os arsenais do mundo com tal poder que são capazes de destruir toda a humanidade dezenas de vezes: “Desejo reiterar, com convicção, que o uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não só contra o homem e a sua dignidade, mas também contra toda a possibilidade de futuro na nossa casa comum. O uso da energia atômica para fins de guerra é imoral, como é imoral de igual modo – já o disse há dois anos – a posse das armas atômicas. Seremos julgados por isso”.

De acordo com a Federação de Cientistas Americanos, citada no jornal Domani, há 290 ogivas nucleares na Europa sob controle francês e 225 ogivas na Grã-Bretanha. Quase todas as ogivas nucleares - 88% - estão nos arsenais dos Estados Unidos e da Rússia, mais de 5.000 ogivas cada. Ao todo, nove países têm bombas nucleares, além dos já mencionados, China, Índia, Coreia do Norte, Paquistão e Israel. Atualmente, existem mísseis balísticos capazes de liberar um poder destrutivo mil vezes maior do que as bombas lançadas sobre Hiroxima e Nagasaki em 1945. Podemos nos perguntar: será que realmente precisamos de ainda mais armas? Essa é realmente a única maneira de nos defendermos?

“A Igreja Católica - disse o Papa em Nagasaki seis anos atrás - está irrevogavelmente empenhada com a decisão de promover a paz entre os povos e as nações: é um dever ao qual se sente obrigada diante de Deus e perante todos os homens e mulheres desta terra... Com a convicção de que é possível e necessário um mundo sem armas nucleares, peço aos líderes políticos para não se esquecerem de que as mesmas não nos defendem das ameaças à segurança nacional e internacional do nosso tempo”.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

15 março 2025, 14:01
<Ant
Março 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
     12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31      
Prox>
Abril 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930