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2025.02.22 Il cardinale Czerny a Tripoli (Libano) 2025.02.22 Il cardinale Czerny a Tripoli (Libano) 

Bab-al-Tabbaneh, a “favela” libanesa onde se combate a droga e se sonha a paz

No terceiro dia de sua missão no Líbano, o cardeal Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, viajou para Trípoli onde, no bairro mais pobre do Mediterrâneo, atingido por uma guerra de quase 40 anos entre sunitas e alauítas, visitou a estrutura de "Forsa", um projeto apoiado por muçulmanos e cristãos para a reabilitação de dependentes químicos. Visita também à escola Al-Moutrane Al-Raaiya, onde os pequenos estudantes gritavam por um futuro "sem guerra e injustiça"

Salvatore Cernuzio - Trípoli

Hussein tem 32 anos e começou a usar drogas aos 15. Ele é loiro, alto, com feições quase caucasianas, e jamais se poderia pensar que por mais de dez anos ele foi viciado em drogas, morador de rua, traficante ocasional para conseguir mais uma dose. Hussein então entrou em um programa de reabilitação e está livre de substâncias há anos.

A clássica história com final feliz, dom altos e baixos, poderia parecer a do jovem libanês de Trípoli, no norte do país. Mas entre começar a usar drogas e ficar completamente “limpo”, há uma ampla gama de lacerações humanas, físicas e espirituais. Feridas, talvez mais profundas do que aquelas causadas pela heroína, que cicatrizam depois de anos e anos. Hussein as superou e esta é provavelmente a maior vitória. Ele conseguiu isso graças a um projeto chamado Forsa, o primeiro centro de reabilitação de dependência química em Trípoli, no norte do Líbano, dedicado a jovens como ele, que acabam nas ruas e em armadilhas das quais é difícil escapar sozinho.

Muçulmanos e cristãos juntos

 

A iniciativa – visitada e encorajada na sexta-feira, terceiro dia da missão no País dos Cedros, pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral que apoia o projeto – é realizada pelas organizações Al Manhaj e Oum El Nour sob o patrocínio da Dar Al Fatwa (autoridade religiosa islâmica), da Arquidiocese Maronita de Trípoli e do Exército Libanês.

Muçulmanos e cristãos, portanto, unidos para dar uma resposta à chaga do abuso de drogas que aflige toda a cidade de Trípoli, privada, devido à crise, de instalações de tratamento e reabilitação, e que afeta particularmente a área onde está localizada a unidade de Forsa: Bab-al-Tabbaneh.

Um bairro pobre, mas tão pobre que é conhecido como a “favela do Mediterrâneo”. A culpa é de um conflito de quarenta anos (1976-2015) entre residentes muçulmanos sunitas e alauitas do bairro vizinho de Jabal Mohsen, que, além de um longo rastro de mortes, incluindo de crianças (seus rostos, elogiados como “mártires”, são exibidos em fotografias gigantes penduradas na rua), gerou violência, pobreza e incerteza. E também uma brutalização de todo o bairro, reduzido a prédios em ruínas, todos do mesmo tom acinzentado, com a única cor das roupas estendidas para secar nas grades, lixo e pilhas de trapos ou mesmo edredons abandonados nas calçadas, lojas e mercados decadentes vendendo tapetes, bolsas e sapatos falsificados, frutas e verduras. Frutas e vegetais por todo lado: em cestos, bandejas, carrinhos colocados no meio da rua para estreitar as faixas e aumentar o trânsito.

O projeto “Forsa” para dar força a quem é vítima de dependência química

 

Não é fácil entrar neste labirinto de ruas largas e ruas estreitas, onde as pessoas dirigem como se não houvesse faixas, se vestem como se não houvesse estações, fumam como se não houvesse amanhã. Somente no último trecho, quando o canto do muezim desaparece, a rua se torna mais larga e de terra e, ao longe, surge uma placa branca com uma inscrição multicolorida: Forsa.

Uma palavra árabe que significa literalmente “chance, oportunidade”, mas que soa como um incentivo: Força!”. O tipo de sentimento que se tenta incutir nos onze rapazes com idades entre 18 e 30 anos, eque se recuperam nesta estrutura de três andares com paredes brancas e um forte cheiro de baunilha. Todos homens, todos ex-viciados em drogas. Os operadores cuidam deles em todos os âmbitos, sem descuidar do lado psicológico e emocional. “Trabalhamos no bem-estar integral da pessoa e na dignidade.”

Eu trabalho pelo bem integral e pela dignidade

 

Trabalha-se, portanto, também no diálogo e interações para preencher aqueles vazios na alma que se tentou preencher com as drogas. Começa com pequenas coisas, como os quartos que são sempre compartilhados por três pessoas “para ajudar e monitorar uns aos outros e criar uma fraternidade que ajude”, como explicou o presidente da Forsa ao cardeal Czerny, acompanhado pelo mufti de Trípoli, Mohammad Imam, o núncio apostólico Paolo Borgia e o arcebispo maronita Youssef Soueif. Alguns dos rapazes reúnem-se numa sala de estar, num semicírculo, e saúdam o cardeal com um italiano hesitante: “Buonasera”, dizem, mas ainda não são nem 10 da manhã. Alguns encostam a testa na mão do cardeal, em sinal de reverência.

Testemunho de Hussein

 

Entre eles está Hussein, o único a dar testemunho aos presentes. Vindo de uma família de cinco filhos, ele diz: “Não consegui encontrar o amor dos meus pais, então saí na rua para encontrá-lo com os amigos. Comecei com drogas aos 15 anos, comecei a roubar da mamãe e do papai para comprá-las. Magoei tanto meus pais que eles me esperavam até de manhã para eu voltar. Eles me viram fora de mim. Ninguém gostaria de ver os olhos dos pais nessas situações.”

O rapaz conta que virou “escravo” das substâncias e dos traficantes: “Eles me pediam para sair às 3 da manhã, pegar um carro roubado e entregar a droga para alguém, para eu também poder tomar uma dose. Depois me deixavam na rua. Tornei-me um sem-teto.” Hussein começou a odiar a si mesmo: “Eu me olhava no espelho e gritava palavras desagradáveis ​​para mim mesmo. Eu estava cansado de mim mesmo.”

A mãe dele não: "Em doze anos ela nunca desistiu de mim." E ele o levou ao centro Forsa onde “minha nova vida começou”. “Primeiramente - diz Hussein - aprendi a ser bom comigo mesmo, comecei a me organizar, a me controlar, a viver o dia como dia e a noite como noite, e não o contrário. Aprendi a me comunicar comigo mesmo e com os outros. E descobri a dignidade como pessoa e que a vida é bela."

Um sinal para toda a sociedade

 

Uma grande salva de palmas saudou o testemunho, seguido pelo pronunciamento do cardeal Czerny: “Este lugar é uma mensagem, um sinal para toda a sociedade”, disse ele. Depois é a vez do núncio Bórgia, que em particular se dirige aos operadores: “Pensem numa criança que sai para brincar e volta suja, tenham o mesmo amor do pai e da mãe que a ajudam a limpá-la. Façam emergir a beleza que há dentro de cada um .”

A escola com duas entradas, em meio ao conflito

 

E se a beleza tivesse um rosto, seria aquele das mais de cem crianças que, usando vestimentas e adereços tradicionais, receberam o cardeal em sua próxima parada, ou seja, na escola Al-Moutrane Al-Raaiya, um instituto histórico em Trípoli com localização estratégica, exatamente no cruzamento entre Bab-al-Tabbaneh e Jabal Mohsen.

Diz-se que havia duas entradas para a escola: os sunitas entravam por uma, os alauítas pela outra. “Eles deixavam os filhos na escola e depois iam se matar.”

Fundada em 1963 no terreno da igreja Saydet Al-Hara (Nossa Senhora do Bairro), a igreja mais antiga de Trípoli, com mais de 1200 anos, a escola – uma das quinze da Arquidiocese Maronita – tornou-se ao longo do tempo um lugar de encontro e paz.

Educação comum para crianças de todas as religiões

 

Hoje, crianças de todas as denominações (os cristãos são cerca de 2%) recebem “uma educação comum” e os pais se reúnem em espírito de respeito. Agora que a guerra acabou, há outra “guerra” para lutar: a crise econômica. De fato, muitos estudantes são forçados a abandonar os estudos para trabalhar. Por esse motivo, em Al-Moutrane Al-Raaiya não há mensalidades ou taxas, mas uma taxa anual mínima é paga e aqueles que não podem pagar são sustentados.

Para o instituto não é o dinheiro que importa, mas sim poder “construir a nação construindo o homem”, por meio da promoção de valores humanos e cristãos, como o diálogo, a aceitação do outro, a cidadania. Uma bagagem pela qual várias mães, ex-alunas, dizem ser gratas: “Aqui nos ensinaram a ter dignidade, ambição, nos ajudaram a conquistar tudo o que queríamos conquistar”. É por isso que eles queriam matricular seus filhos na mesma instituição.

Hino da Paz

 

Precisamente elas, as crianças, são as protagonistas da parte final do encontro, dançando para o cardeal Czerny e cantando uma música em francês. O ritmo de uma cantiga de ninar, mas um texto programático:

“Livres, iguais e irmãos, apesar da pobreza e da guerra, faremos vocês orgulhosos de nós... Vamos construir um país sem pobreza. Sonhamos com um país moderno e animado. Queremos, sim! Podemos, sim!”.

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