Maria Peregrina que conduz a Jesus
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O Jubileu que estamos vivendo, convida-nos a ser "Peregrinos de Esperança". Mas, o que significa "ser peregrinos?", pergunta o Papa em sua mensagem para o 61º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, sob o tema "Chamados a semear a esperança e a construir a paz". "Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada - responde Francisco - ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia para que que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos".
E precisamente em Maria - disse por sua vez o Papa no Encontro com os Jovens Universitários em Lisboa, em agosto de 2023 - "há uma pressa de peregrina, mas uma pressa fundamentada. A pressa de voltar-se para o alto, para Deus e para o outro faz com que as pessoas busquem o essencial na vida".
No contexto deste Ano Jubilar 2025, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "Maria Peregrina que conduz a Jesus":
"A peregrinação a um templo, Igreja, santuário, catedral é um dos aspectos importantes para esse Ano Jubilar 2025 que estamos vivenciando. A peregrinação faz parte do Ano Santo Jubilar. É também uma das motivações e condições para dar sentido de se receber as indulgências próprias para o Ano Jubilar. Na bula da publicação do Ano Jubilar, um dos critérios fortes para as graças, é o sentido de uma peregrinação.
A grande personagem bíblica peregrina na história da salvação, no Novo Testamento, é Maria, mãe dos viandantes e caminhantes. Depois do anúncio do Anjo Gabriel, Maria poderia ter se acomodado em sua casa, pois carregava em seu ventre o Verbo da Vida, o Salvador dos homens. Mas, logo ela se põe a caminho para visitar sua prima Santa Isabel, que necessitava de ajuda na gravidez. Maria, portanto, também faz sua jornada, sua peregrinação, sua caminhada à longínqua casa de Isabel, distante mais de 140Km. E ainda percorreu uma região montanhosa, com seus perigos latentes.
Maria é mãe peregrina. Ela é protótipo também da Igreja que peregrina, nesse vale de lágrimas, a caminho da casa Paterna. São João Paulo II, em sua Carta Encíclica Redemptoris Mater, escreve assim, sobre esse episódio da Visita de Maria à sua prima Santa Isabel: “Logo depois de ter narrado a Anunciação, o Evangelista São Lucas faz-nos de guia, seguindo os passos da Virgem em direção a «uma cidade de Judá» (Lc 1,39). Segundo os estudiosos, esta cidade devia ser a «Ain-Karim» de hoje, situada entre as montanhas, não distante de Jerusalém. Maria dirigiu-se para lá «apressadamente», para visitar Isabel, sua parente”. Em Maria há uma pressa de peregrina, mas uma pressa fundamentada, disse o Papa Francisco. A pressa de voltar-se para o alto, para Deus e para o outro faz com que as pessoas busquem o essencial na vida.
A Lumen Gentium, número 58, nos aponta Maria no “caminho da fé”. Toda sua vida é um caminho, uma peregrinação da fé. Também o Catecismo da Igreja Católica aponta Maria e Abraão como testemunhas da fé e fala que Maria teve a experiência da “peregrinação na fé” e “noite da fê”, expressão de São João Paulo II na Encíclica Redemptoris Mater. Na sua Encíclica Evangelii Gaudium, no número 287, o Papa Francisco aponta assim a respeito de Maria como Guia e Estrela da Evangelização, peregrina e itinerante na fé: “À Mãe do Evangelho vivente, pedimos a sua intercessão a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial. Ela é a mulher de fé, que vive e caminha na fé, (cf. LG,52-62) e «a sua excepcional peregrinação da fé representa um ponto de referência constante para a Igreja».
Escreve assim, a teóloga Ir. Maria Ko Ha Fong, da congregação salesiana, num aprofundamento teológico: “A imagem de Maria a caminho emerge com nitidez nos evangelhos e foi sempre rica de reflexão ao longo da história da Igreja. Maria encontra-se com frequência a caminho: sai, caminha, desloca-se mais do que as mulheres do seu tempo. As suas viagens entre Nazaré, Ain Karim, Belém, Jerusalém, Egito são acompanhadas de um dinamismo interior muito intenso. Toda a sua vida é um caminho, uma «peregrinação da fé» (cf. Lumen Gentium, 58). A mariologia conciliar realça esta «peregrinação» de Maria, vendo nela um modelo permanente para toda a Igreja. Não só. Maria mesma é caminho, caminho que conduz a Cristo, caminho que conduz «ao Caminho»”[1]. Jesus mesmo diz, se auto-revelando: Eu sou O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA. Somos peregrinos e Jesus é o caminho, mas também a principal meta que queremos atingir. Na nossa caminhada de fé, a esperança é o que nos move para frente, mesmo diante dos desafios e incertezas da vida. Não podemos ser caranguejos e caminhar pra trás. Ser um peregrino da esperança é acreditar que Deus está sempre ao nosso lado, nos guiando em frente, na direção de Deus, nos fortalecendo e nos dando a confiança necessária para superar as dificuldades. Que Maria peregrina nos acompanhe nesse trajeto."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] https://donboscosalesianportal.org/wp-content/uploads/GFS_2016_MariaKo_pt.pdf
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