Arcebispo Gallagher conclui sua visita ao Congo-Brazzaville
Stanislas Kambashi, SJ – Cidade do Vaticano
"Com esta cerimônia de lançamento dos trabalhos da Comissão Mista para a aplicação do Acordo-Quadro entre a República do Congo e a Santa Sé, estamos vivendo hoje um dia histórico", afirmou o arcebispo Gallagher em seu discurso. Diante de representantes do governo congolês, da Igreja no Congo e na presença do núncio apostólico no Congo e no Gabão, o secretário para as Relações com os Estados apresentou uma visão geral do desenvolvimento da cooperação entre o Congo e a Santa Sé. Da mesma forma, ele destacou a importância do Acordo-Quadro para o relacionamento e colaboração entre as duas partes, que celebrarão 50 anos de relações diplomáticas bilaterais em 2027.
Assinado em Brazzaville em 3 de fevereiro de 2017, o Acordo-Quadro constitui a “coroação de um longo caminho de amizade positiva e colaboração entre a Santa Sé e o governo congolês”. O trabalho e as discussões jurídicas emanadas da Comissão Mista para a aplicação do Acordo-Quadro entre as duas partes - explicou Gallagher -, consistem em “promover uma relação entre as instituições que possa fomentar uma colaboração saudável nas diferentes áreas de interesse comum”.
Fortalecer a cooperação em educação, saúde e assistência espiritual nas forças armadas
O aebispo Gallagher explicou depois o conteúdo do Acordo, que “oferece uma estrutura legal para a personalidade pública da Igreja Católica no Congo”. Ao mesmo tempo, reafirmou o princípio internacional de colaboração entre os Estados, bem como “o interesse comum em promover nos próximos anos acordos específicos, entre outros, nos campos da educação, da saúde e da assistência espiritual nas forças armadas”. Tal cooperação fortalecerá as boas relações existentes entre os dois Estados nos níveis bilateral e internacional, acredita o diplomata da Santa Sé. Essas relações, disse ele, visam promover concretamente caminhos de paz e reconciliação em um mundo dramaticamente marcado por conflitos e profundas desigualdades sociais.
A visita do presidente Denis Sassou N'Guesso ao Vaticano
A cooperação entre o Congo e a Santa Sé fez vários avanços desde o estabelecimento das relações diplomáticas bilaterais em 1977, na promoção de muitos valores fundamentais compartilhados pelos dois Estados, sublinhou o arcebispo Gallagher. A visita ao Vaticano em novembro de 2024 de Denis Sassou N'Guesso é uma "prova clara dessas boas e frutíferas relações bilaterais".
Na ocasião, o Santo Padre e o presidente congolês concordaram sobre a importância do diálogo e da fraternidade como instrumento eficazes na resolução dos atuais conflitos internacionais, recordou o prelado. Assim, ele faz votos que essas relações continuem sendo frutíferas, desejando que se reflitam “numa busca crescente de diálogo e respeito, em todos os níveis da sociedade, entre o mundo institucional e o mundo da fé”.
“Refletir sobre o princípio de uma “laicidade construtiva e inclusiva””
Entre essas áreas de cooperação frutuosa entre a Santa Sé e o Congo, o secretário para as Relações com os Estados também mencionou a evangelização. O lançamento dos trabalhos da Comissão Mista, observa ele, é um passo que faz parte de “um movimento muito mais amplo e antigo, que levou há mais de cento e quarenta anos ao encontro fecundo e promissor entre o Evangelho de Cristo e as diferentes culturas locais congolesas". Um encontro que permitiu iniciar “um caminho de fraternidade, de educação das consciências, de promoção da dignidade humana, de solidariedade e de desenvolvimento fraterno, bem como de colaboração saudável entre instituições”.
Hoje, a presença católica é parte integrante da história e da cultura congolesa, assim como outros movimentos e confissões religiosas. O Congo é um exemplo de coexistência pacífica no plano religioso e intercultural, afirmou o enviado do Papa. Com base nesta boa cooperação entre a Igreja e o Estado, inspirado pela reflexão sobre um “laicismo positivo” no contexto europeu, o diplomata britânico considera que é agora relevante “refletir sobre o princípio de um “laicismo construtivo e inclusivo”, ou seja, "uma variação estrutural do laicismo do Estado que sabe valorizar corretamente a contribuição positiva da religião na esfera pública, bem como os benefícios que ela traz para o bem de todos".
Uma nova onda de fraternidade e respeito pelos outros
Em seu discurso, o bispo Gallagher também abordou a questão ambiental, que afeta diretamente o Congo, país que abriga um dos ecossistemas mais importantes do planeta e que está exposto às mudanças climáticas. Ele reiterou o apelo que o Papa Francisco fez na Encíclica Laudato Si' e em outros escritos, convidando a "ampliar o horizonte para proteger juntos a nossa casa comum".
Na mesma perspectiva, o secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais insistiu na “urgência de promover o desenvolvimento integral das nossas sociedades”, oferecendo a todos “oportunidades de crescimento profissional e pessoal”, garantindo o acesso de todos aos bens essenciais "como alimentos, água, assistência médica, educação e treinamento técnico, e garantindo a liberdade de consciência e expressão". São questões complexas que exigem um novo impulso à fraternidade e ao respeito pelo próximo, afirmou dom Gallagher, que reiterou o desejo da Santa Sé de continuar a oferecer, por meio da ação da Conferência Episcopal, a sua contribuição “à promoção do desenvolvimento harmonioso e solidário de todos os componentes da sociedade”. Neste sentido, é essencial educar as novas gerações para uma fraternidade renovada, para que cresçam conscientes da importância do respeito ao outro, da escuta e do diálogo pela paz.
O arcebispo Gallagher concluiu seu discurso com uma nota de esperança, reafirmando o compromisso da Santa Sé em promover relações bilaterais "cada vez mais favoráveis à amizade e à colaboração com a República do Congo, para o bem de todos".
Tendo chegado em Brazzaville no sábado, 11 de janeiro, o secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais passou quatro dias na capital congolesa. Além de dar início aos trabalhos da Comissão Mista para a implementação do Acordo-Quadro, principal motivo da sua viagem, rezou diante do túmulo do Servo de Deus cardeal Émile Biayenda, primeiro e único cardeal do Congo, assassinado em 1977, e cuja beatificação está sendo postulada pela Igreja do Congo.
No domingo, 12 de janeiro, o arcebispo Gallagher presidiu a Missa da Solenidade do Batismo do Senhor, que também marcou o Jubileu dos movimentos eclesiais. Sua visita terminou com uma reunião com o presidente Denis Sassou N'Guesso na terça-feira, 14 de janeiro.
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