O presidente congolês Denis Sassou N'Guesso, com o arcebispo Paul Richard Gallagher, na terça-feira, 14 de janeiro de 2025, no palácio presidencial, em Brazzaville. O presidente congolês Denis Sassou N'Guesso, com o arcebispo Paul Richard Gallagher, na terça-feira, 14 de janeiro de 2025, no palácio presidencial, em Brazzaville. 

Arcebispo Gallagher conclui sua visita ao Congo-Brazzaville

Após quatro dias intensos de trabalho, o arbispo Paul Richard Gallagher concluiu sua visita à República do Congo na terça-feira, 14 de janeiro, com um encontro com o presidente congolês, Denis Sassou Nguesso. Em Brazzaville, o secretário da Santa Sé para Relações com Estados e Organizações Internacionais lançou os trabalhos da Comissão Mista para a implementação do Acordo-Quadro. Um "dia histórico", ele declarou durante a cerimônia.

Stanislas Kambashi, SJ – Cidade do Vaticano

"Com esta cerimônia de lançamento dos trabalhos da Comissão Mista para a aplicação do Acordo-Quadro entre a República do Congo e a Santa Sé, estamos vivendo hoje um dia histórico", afirmou o arcebispo Gallagher em seu discurso. Diante de representantes do governo congolês, da Igreja no Congo e na presença do núncio apostólico no Congo e no Gabão, o secretário para as Relações com os Estados apresentou uma visão geral do desenvolvimento da cooperação entre o Congo e a Santa Sé.  Da mesma forma, ele destacou a importância do Acordo-Quadro para o relacionamento e colaboração entre as duas partes, que celebrarão 50 anos de relações diplomáticas bilaterais em 2027.

Assinado em Brazzaville em 3 de fevereiro de 2017, o Acordo-Quadro constitui a “coroação de um longo caminho de amizade positiva e colaboração entre a Santa Sé e o governo congolês”. O trabalho e as discussões jurídicas emanadas da Comissão Mista para a aplicação do Acordo-Quadro entre as duas partes - explicou Gallagher -, consistem em “promover uma relação entre as instituições que possa fomentar uma colaboração saudável nas diferentes áreas de interesse comum”.

Fortalecer a cooperação em educação, saúde e assistência espiritual nas forças armadas

 

O aebispo Gallagher explicou depois o conteúdo do Acordo, que “oferece uma estrutura legal para a personalidade pública da Igreja Católica no Congo”. Ao mesmo tempo, reafirmou o princípio internacional de colaboração entre os Estados, bem como “o interesse comum em promover nos próximos anos acordos específicos, entre outros, nos campos da educação, da saúde e da assistência espiritual nas forças armadas”.  Tal cooperação fortalecerá as boas relações existentes entre os dois Estados nos níveis bilateral e internacional, acredita o diplomata da Santa Sé. Essas relações, disse ele, visam promover concretamente caminhos de paz e reconciliação em um mundo dramaticamente marcado por conflitos e profundas desigualdades sociais.

Dom Paul Richard Gallagher, durante a missa celebrada em 12 de janeiro de 2025 em Brazzaville.
Dom Paul Richard Gallagher, durante a missa celebrada em 12 de janeiro de 2025 em Brazzaville.

A visita do presidente Denis Sassou N'Guesso ao Vaticano

 

A cooperação entre o Congo e a Santa Sé fez vários avanços desde o estabelecimento das relações diplomáticas bilaterais em 1977, na promoção de muitos valores fundamentais compartilhados pelos dois Estados, sublinhou o arcebispo Gallagher. A visita ao Vaticano em novembro de 2024 de Denis Sassou N'Guesso é uma "prova clara dessas boas e frutíferas relações bilaterais".

Na ocasião, o Santo Padre e o presidente congolês concordaram sobre a importância do diálogo e da fraternidade como instrumento eficazes na resolução dos atuais conflitos internacionais, recordou o prelado. Assim, ele faz votos que essas relações continuem sendo frutíferas, desejando que se reflitam “numa busca crescente de diálogo e respeito, em todos os níveis da sociedade, entre o mundo institucional e o mundo da fé”.

“Refletir sobre o princípio de uma “laicidade construtiva e inclusiva””

 

Entre essas áreas de cooperação frutuosa entre a Santa Sé e o Congo, o secretário para as Relações com os Estados também mencionou a evangelização. O lançamento dos trabalhos da Comissão Mista, observa ele, é um passo que faz parte de “um movimento muito mais amplo e antigo, que levou há mais de cento e quarenta anos ao encontro fecundo e promissor entre o Evangelho de Cristo e as diferentes culturas locais congolesas". Um encontro que permitiu iniciar “um caminho de fraternidade, de educação das consciências, de promoção da dignidade humana, de solidariedade e de desenvolvimento fraterno, bem como de colaboração saudável entre instituições”.

Hoje, a presença católica é parte integrante da história e da cultura congolesa, assim como outros movimentos e confissões religiosas. O Congo é um exemplo de coexistência pacífica no plano religioso e intercultural, afirmou o enviado do Papa. Com base nesta boa cooperação entre a Igreja e o Estado, inspirado pela reflexão sobre um “laicismo positivo” no contexto europeu, o diplomata britânico considera que é agora relevante “refletir sobre o princípio de um “laicismo construtivo e inclusivo”, ou seja, "uma variação estrutural do laicismo do Estado que sabe valorizar corretamente a contribuição positiva da religião na esfera pública, bem como os benefícios que ela traz para o bem de todos".

O presidente congolês, Denis Sassou N'Guesso, recebendo dom Paul Richard Gallagher, secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais no Palácio Presidencial, em Brazzaville.
O presidente congolês, Denis Sassou N'Guesso, recebendo dom Paul Richard Gallagher, secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais no Palácio Presidencial, em Brazzaville.

Uma nova onda de fraternidade e respeito pelos outros

 

Em seu discurso, o bispo Gallagher também abordou a questão ambiental, que afeta diretamente o Congo, país que abriga um dos ecossistemas mais importantes do planeta e que está exposto às mudanças climáticas. Ele reiterou o apelo que o Papa Francisco fez na Encíclica Laudato Si' e em outros escritos, convidando a "ampliar o horizonte para proteger juntos a nossa casa comum".

Na mesma perspectiva, o secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais insistiu na “urgência de promover o desenvolvimento integral das nossas sociedades”, oferecendo a todos “oportunidades de crescimento profissional e pessoal”, garantindo o acesso de todos aos bens essenciais "como alimentos, água, assistência médica, educação e treinamento técnico, e garantindo a liberdade de consciência e expressão". São questões complexas que exigem um novo impulso à fraternidade e ao respeito pelo próximo, afirmou dom Gallagher, que reiterou o desejo da Santa Sé de continuar a oferecer, por meio da ação da Conferência Episcopal, a sua contribuição “à promoção do desenvolvimento harmonioso e solidário de todos os componentes da sociedade”. Neste sentido, é essencial educar as novas gerações para uma fraternidade renovada, para que cresçam conscientes da importância do respeito ao outro, da escuta e do diálogo pela paz.

O arcebispo Gallagher concluiu seu discurso com uma nota de esperança, reafirmando o compromisso da Santa Sé em promover relações bilaterais "cada vez mais favoráveis ​​à amizade e à colaboração com a República do Congo, para o bem de todos".

Arcebispo Gallagher na Missa celebrada em 12 de janeiro de 2025, em Brazzaville.
Arcebispo Gallagher na Missa celebrada em 12 de janeiro de 2025, em Brazzaville.

Tendo chegado em Brazzaville no sábado, 11 de janeiro, o secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais passou quatro dias na capital congolesa. Além de dar início aos trabalhos da Comissão Mista para a implementação do Acordo-Quadro, principal motivo da sua viagem, rezou diante do túmulo do Servo de Deus cardeal Émile Biayenda, primeiro e único cardeal do Congo, assassinado em 1977, e cuja beatificação está sendo postulada pela Igreja do Congo.

No domingo, 12 de janeiro, o arcebispo Gallagher presidiu a Missa da Solenidade do Batismo do Senhor, que também marcou o Jubileu dos movimentos eclesiais. Sua visita terminou com uma reunião com o presidente Denis Sassou N'Guesso na terça-feira, 14 de janeiro.

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15 janeiro 2025, 20:07