O Papa: não podemos ser cúmplices do abuso infantil
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco voltou a falar sobre as crianças na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (15/01), realizada na Sala Paulo VI.
Abuso infantil, ato desprezível e atroz
Na semana passada, o Pontífice focou na "forma como, na sua obra, Jesus falou várias vezes sobre a importância de proteger, acolher e amar os mais pequenos".
"Infelizmente, nas nossas sociedades, existem muitas formas pelas quais as crianças são abusadas e maltratadas", disse ainda Francisco, acrescentando:
O Papa sublinhou que conhece um país da América Latina, "que produz uma fruta especial, muito especial, chamada "arando", um tipo de mirtilo, mas para colher o arando são necessárias mãos delicadas e são as crianças a fazê-lo, escravizam as crianças para uma colheita".
As crianças pagam o preço mais alto
Segundo o Papa, "a pobreza generalizada, a falta de ferramentas sociais de apoio às famílias, o aumento da marginalização nos últimos anos, a par do desemprego e da precariedade laboral, são fatores que descarregam sobre os mais jovens o preço mais elevado a pagar. Nas metrópoles, onde a exclusão social e a degradação moral são “gritantes”, existem crianças envolvidas no tráfico de droga e nas mais diversas atividades ilícitas".
A seguir, o Papa recordou um caso que aconteceu em seu país do menino Loan Peña, de 5 anos, que desapareceu na cidade de Nove de Julho, em Corrientes, em junho do ano passado.
"Loan foi sequestrado e ninguém sabe onde ele está", disse o Papa. Uma das hipóteses é que tenha sido sequestrado para tráfico de órgãos. "Isso acontece. Alguns voltam com cicatrizes, outros morrem. Por isso, eu quis lembrar esse menino, Loan, hoje", sublinhou.
Não ser cúmplice do trabalho infantil
Francisco prosseguiu sua catequese, dizendo que "é difícil para nós reconhecer a injustiça social que leva duas crianças, talvez residentes no mesmo bairro ou prédio, a tomarem caminhos e destinos diametralmente opostos, porque uma delas nasceu numa família desfavorecida. Uma fratura humana e social inaceitável: entre aqueles que podem sonhar e aqueles que devem sucumbir". "Mas Jesus quer que todos sejamos livres e felizes e nos pede que paremos e ouçamos o sofrimento dos que não têm voz, dos que não têm escola. Combater a exploração, sobretudo a infantil, é a principal forma de construir um futuro melhor para toda a sociedade", ressaltou Francisco, lembrando que "alguns países tiveram a sabedoria de incluir por escrito os direitos das crianças. As crianças têm direitos, pesquisem para descobrir quais são os direitos da criança".
Perguntemo-nos: o que eu posso fazer? "Se queremos erradicar o trabalho infantil, não podemos ser cúmplices dele. E quando o somos? Por exemplo, quando compramos produtos que utilizam trabalho infantil. Como posso comer e vestir-me sabendo que por detrás daquela comida ou daquela roupa estão crianças exploradas, que trabalham em vez de irem à escola?" Perguntou o Papa.
Ter consciência do que compramos
No entanto, é também necessário lembrar as instituições, incluindo as eclesiásticas, e as empresas da sua responsabilidade: podem fazer a diferença transferindo os seus investimentos para empresas que não utilizam nem permitem o trabalho infantil.
Francisci recordou que "muitos Estados e organizações internacionais já promulgaram leis e diretivas contra o trabalho infantil, mas muito mais pode ser feito. Peço também aos jornalistas que façam a sua parte: podem ajudar a aumentar a consciencialização sobre o problema e ajudar a encontrar soluções. Não tenham medo, denunciem, denunciem essas coisas".
Santa Teresa de Calcutá, alegre serva na vinha do Senhor
A seguir, agradeceu "a todos aqueles que não se afastam quando veem crianças forçadas a tornarem-se adultos demasiado cedo". Recordou "Santa Teresa de Calcutá, alegre serva na vinha do Senhor, que foi mãe das crianças desfavorecidas e esquecidas. Com a ternura e a atenção do seu olhar, ela pode acompanhar-nos para ver os pequenos invisíveis, os muitos escravos de um mundo que não podemos abandonar às suas injustiças. Porque a felicidade dos mais frágeis constrói a paz para todos".
Francisco concluiu, com um texto de Madre Teresa com o qual dar voz às crianças:
“Quero um lugar seguro onde posso brincar. Quero um sorriso de quem sabem amar. Quero o direito de ser criança, de ser esperança de um mundo melhor. Quero poder crescer como pessoa. Posso contar contigo?” (Santa Teresa de Calcutá)
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