Irmã Petra: o perdão está na raiz da nossa fé
Silvonei José – Vatican News
Tivemos no passado domingo, dia 14 de dezembro, o último grande evento temático do Ano Santo, o Jubileu dos Reclusos. Ponto alto, a Santa Missa presidida pelo Papa Leão XIV na Basílica de São Pedro. Entre os mais de 6 mil participantes, uma delegação da Pastoral Carcerária do Brasil. As hóstias para a celebração foram doadas por um projeto italiano que envolve mais de 300 detentos por ano na produção de hóstias destinadas a mais de 15 mil dioceses italianas e estrangeiras. Os participantes eram de cerca de 90 países, entre os quais Itália, Espanha, Portugal, Reino Unido, Polônia, Alemanha, Indonésia, México, Madagascar, Colômbia, Estados Unidos, Guiné-Bissau, Filipinas, Taiwan e Austrália. Uma delegação do Brasil foi liderada por Irmã Petra Silvia Pfaller, coordenadora nacional da Pastoral Carcerária (PCr).
A irmã Petra visitou a Rádio Vaticano – Vatican News e conversou conosco.
Irmã Petra, que alegria poder recebê-la. Seja bem-vinda entre nós.
Muito obrigada. Alegria, honra minha de partilhar um pouco da nossa experiência junto com as pessoas encarceradas e seus familiares dentro da missão do cárcere.
Irmã, nós tivemos, neste final de semana, o Jubileu dos Reclusos. Muitos ainda não compreendem que depois de cada queda deve ser possível levantar-se. Que nenhum ser humano se reduz ao que se fez e que a justiça é sempre um processo de reparação e reconciliação. São palavras do nosso Papa Leão na Missão do Jubileu dos Reclusos no domingo. A senhora esteve presente. Vamos falar um pouquinho desse Jubileu. O que lhe tocou nesses dias aqui em Roma?
Foi muito emocionante participar nessa celebração com mais de 200 agentes da Pastoral Carcerária do mundo inteiro. Então, a Pastoral Carcerária realmente é uma pastoral que mergulha na Igreja do mundo, nos cárceres. Somos poucos, mas estamos presentes. E realmente... Não podemos esquecer essas pessoas que são julgadas por alguma coisa. Ou até julgadas porque não fizeram nada, talvez só por causa da cor da pele. Importante essa missão profética, que o Papa também lembrou, que somos uma igreja profética. E o profetismo é entrar nessas grades, nesses muros e estar presente com essa população que tanto sofre, atrás das grades, escondida muitas vezes dos nossos olhares, porque os muros e as grades são grandes e fortes.
Os problemas a enfrentar são numerosos, disse Papa Leão. Pensemos na sobrelotação, no empenho ainda insuficiente para garantir programas educativos estáveis de reabilitação e oportunidades de trabalho. Em nível mais pessoal, não esqueçamos o... Peso do passado, as feridas a curar no corpo e no coração, as desilusões. A paciência infinita que é necessária consigo mesmo e com os outros, quando se empreende um caminho de conversão e a tentação de desistir ou deixar de perdoar. Tudo começa com a palavra perdão. Perdoar a si mesmo e pedir perdão.
O perdão está na raiz da nossa fé. Jesus que nos mostrou o que é perdão. E se nós que rezamos o Pai Nosso três, quatro, cinco vezes no dia, onde o perdão é central, se nós não vivenciamos isso, nós estamos rasgando a Bíblia. Então é muito importante esse perdão humanamente. E a justiça muitas vezes não perdoa. A justiça é muito... No Brasil há muito uma justiça de vingança. O que nós falamos muito, o que ouvimos muito… Tem que pagar. Tem que ser preso. Mas o que significa isso? Ficar nesses infernos, nos cárceres brasileiros, que não respeitam a dignidade do ser humano em nenhuma dimensão. Então, eu acho que precisamos aprender muito ainda o que é realmente o perdão. A justiça restaurativa nos ensina isso. Bastante. Reconhecer o erro, reconhecer a nossa raiva, a nossa indignação. E também o que é importante, acolher a dor da vítima. A dor da vítima. Na justiça brasileira a vítima não é reconhecida. E quando a dor e o sofrimento da pessoa não estão sendo reconhecidos, vira vingança. Vira violência de novo. Então nós estamos tentando realmente trabalhar nessas duas frentes. A vítima, para ter o espaço para poder falar, acolher, a empatia. Mas fazer um outro caminho e quebrar esse círculo de vingança.
Eis a íntegra da conversa com a irmã Petra:
Os dias do Jubileu dos Reclusos
Os três dias de jubileu tiveram início na sexta-feira, 12 de dezembro, com o Congresso “O direito à esperança no cinquentenário do Ordenamento Penitenciário, no ano do Jubileu da Esperança e no tríduo do Jubileu dos Detentos”, que foi realizado das 9h às 18h na Universidade LUMSA de Roma. Na sexta-feira (12/12) e no sábado, 13 de dezembro, na Fraterna Domus de Sacrofano, foram realizados dois dias de estudo, oração e debate, organizados pela Inspetoria Geral dos Capelães das Prisões Italianas.
No domingo, 14 de dezembro, às 10h no horário italiano, 6h no horário de Brasília, Leão XIV celebrou a missa na Basílica de São Pedro.
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