Hospital em Belém une cristãos e muçulmanos
Giordano Contu - Belém
O cuidado com as pessoas: uma ponte entre povos e religiões. Trata-se de uma maravilha, que se repete todos os dias, no Hospital da “Sagrada Família” em Belém, dirigido pela Soberana Ordem Militar de Malta. Ali, cristãos e muçulmanos trabalham juntos com o mesmo objetivo: ajudar no parto das mães e seus filhos palestinos. Aqui, o diálogo inter-religioso torna-se uma sala de parto, uma corrida contra o tempo, uma mão que segura a outra. Fé e respeito mútuo! Eis a estrela guia dos que cuidam da vida, em uma Terra Santa, que finalmente experimenta uma trégua frágil.
A "verdadeira joia da coroa"
"Este hospital, na minha opinião, é uma verdadeira 'joia da coroa'. Trata-se do único hospital que a Ordem de Malta dirige na Terra Santa. Ali, em Jerusalém, a Soberana Ordem nasceu, há quase 900 anos, graças ao Beato Geraldo, a poucos metros da igreja do Santo Sepulcro": é que diz Gilles Normand, diretor executivo do hospital, à mídia do Vaticano. E acrescenta: "Estamos aqui para ajudar o povo palestino a receber o melhor atendimento possível, segundo o nosso carisma, que quer oferecer o melhor atendimento aos mais pobres e aos que realmente precisam; fazemos isso todos os dias". Os pacientes que chegam ao hospital, geralmente, não pagam o custo real do atendimento, como ele explica ainda: “Depois do dia 7 de outubro de 2023, graças a doadores internacionais, os benefícios aumentaram. Oferecemos um desconto de cerca de 40% para consultas e partos. Isso é fundamental, pois 90% da população de Belém está atualmente desempregada, devido à guerra em Gaza. No entanto, o diálogo não falta nas enfermarias e corredores do hospital”.
Assistência aos mais vulneráveis
Vera Banoura, enfermeira cristã, que trabalha no hospital francês, desde 1997, diz: "Aconselhamos as gestantes, pois, muitas vezes, não percebem certos sinais importantes. Muitas mulheres não sabem que uma forte dor de cabeça pode estar ligada à pressão alta. Elas pensam que a pressão alta seja normal, mas devem ter muito cuidado para não correr o risco de pré-eclâmpsia (complicação da gravidez caracterizada por pressão alta e sinais de danos a outros órgãos)". O acompanhamento é uma das principais e mais importantes atividades do hospital, porque oferece apoio às mães e educação às famílias. Vera Banoura recorda uma história, que ainda lhe causa profunda comoção: “Certo dia, vimos uma mulher gritando no corredor do hospital. Corremos para ver o que estava acontecendo e vimos uma jovem mulher com convulsões, que estava quase no nono mês de gravidez. Medimos logo sua pressão arterial: seu estado era crítico, já em eclampsia (progressão grave da pré-eclâmpsia). Colocamos a mulher em uma maca, inserimos um cateter intravenoso e a levamos às pressas para o centro cirúrgico. Ali, foi realizada uma cesariana de emergência para salvar a mãe e o nascituro. Nunca vou me esquecer deste acontecimento. Quando ela se recuperou, eu a visitei muitas vezes”. Anos mais tarde, aquela jovem mãe muçulmana, ao voltar ao hospital, reconheceu Vera Banoura e a agradeceu.
Casos mais difíceis
Por outro lado, Nada Oweinah, parteira muçulmana, que coordena, desde 2005, a sala de partos do hospital da Ordem, afirma: “Oferecemos apoio fisiológico e psicológico às mulheres na hora do parto, ao longo do processo de nascimento e no período pós-parto. Outra tarefa importante é acolher o recém-nascido: fazemos reanimação, quando necessário, e avaliamos as condições do recém-nascido ao nascer, verificando seu índice de Apgar (cor, respiração e tônus muscular)." Os casos mais difíceis envolvem hemorragias pós-parto, prolapso do cordão umbilical e hipertensão grave. Algumas pessoas tiveram desfechos terríveis. No entanto, em seu departamento, há muito espaço para esperança, com ela ainda explica: "Um dos casos de maior risco é a distocia na hora do parto (o recém-nascido permanece blocado após a saída da cabeça). Trata-se de uma emergência muito séria, que deve ser reconhecida, imediatamente, e a intervenção deve ocorrer imediatamente para que o bebê possa nascer. O último caso ocorreu há alguns dias, mas a equipe reagiu prontamente e unida. O bebê nasceu saudável e a mãe passou bem. Esta foi uma grande satisfação para toda a equipe". Trata-se de um testemunho concreto de como a colaboração entre pessoas diferentes se torna uma força.
Exemplo de assistência e solidariedade
Por sua vez, o Grão-Mestre da Soberana Ordem de Malta, Josef D. Blotz, recordou: "O hospital da “Sagrada Família” é um exemplo de assistência e solidariedade, que representa, plenamente, a missão cristã da Ordem de Malta. Neste lugar a vida é acolhida e protegida, todos os dias, independentemente da confissão religiosa, etnia ou circunstâncias políticas”. Josef Blotz recordando também que a Ordem tem feito tudo o que está ao seu alcance, desde 2024, para sustentar a população de Gaza, através da distribuição de ajuda alimentar, em colaboração com o Patriarcado Latino de Jerusalém, e reiterou: "A Terra Santa está no centro do trabalho da Ordem, que trabalha em mais de 130 países do mundo".
Mensagem ao mundo
O hospital "Sagrada Família" é uma mensagem para o mundo: cuidar dos outros é uma linguagem universal. Os 193 funcionários do hospital são palestinos, metade muçulmanos e outra metade cristãos. Gilles Normand, diretor executivo do hospital, conclui dizendo: "Estou muito satisfeito, porque, desde o início da guerra, não demiti nenhum funcionário. Com seus salários, cerca de 5.000 pessoas conseguem viver em um contexto de alto índice de desemprego. Desta forma, também ajudamos os cristãos do Oriente Médio a permanecer na terra, onde nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo. A minha esperança é que se possa encontrar um caminho de paz para a Terra Santa”.
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