Peregrino da Esperança, frei caminha por 800 quilômetros entre santuários brasileiros
Victor Hugo Barros - Cidade do Vaticano
Peregrinar é rezar com os pés, lançar-se a caminho sem, muitas vezes, saber onde o dia vai terminar. Um ato de confiança no Deus que enche “de toda alegria e paz em vossa fé, a fim de que pela ação do Espírito Santo a vossa esperança transborde” (Rm 15,13). “Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida” (Spes non confundit, 5).
Na Bula Spes non confundit, de convocação do Jubileu 2025, o Papa Francisco define a peregrinação como um caminho de esperança, “um elemento fundamental de todo o evento jubilar” (Spes non confundit, 5). Esperança encontrada no “valor do silêncio, do esforço, da essencialidade” (Spes non confundit, 5).
Foi esta a experiência vivida pelo frei João Paulo Freire Dias, OFMCap. Morando em Aracaju (SE), o religioso franciscano quis iniciar o Ano Santo em peregrinação.
“A ideia de fazer uma peregrinação, e que acaba sendo no início do Ano Jubilar, no mês de janeiro praticamente, para mim inaugurando este tempo de Jubileu, vem de duas experiências. Uma de um agradecimento por uma promessa que fiz, de uma necessidade espiritual que vivi durante a pandemia (de Covid-19). (...) E, segundo, também para celebrar uma data muito pessoal. Este ano de 2025 eu faço 25 anos da minha conversão, da minha volta a experiência de fé na Igreja”, explica o Frei João Paulo.
Durante 23 dias, ele caminhou por quase 800 quilômetros entre três templos brasileiros: o Santuário Nossa Senhora Aparecida do Beato Donizetti, em Tambaú (SP); o Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Beata Nhá Chica, em Baependi (MG); e o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP). “São igrejas jubilares”, contextualiza. “São locais agraciados, são locais literalmente de milagres”, define.
A vida de fé do religioso está intimamente ligada à celebração dos Jubileus. “No ano 2000 nasce ali meu ano vocacional, o ano em que adentrei as fileiras da vida franciscana capuchinha. Primeiro como vocacionado, no ano 2000, e no ano seguinte no Convento”, rememora, ligando o Jubileu da Esperança ao Jubileu do Ano 2000.
No Jubileu de 2025, durante a caminhada, ele viveu novamente um forte momento de fé. “Começar este Ano Jubilar fazendo a peregrinação, saindo de Sergipe, indo para o interior de Minas até São Paulo, sem conhecer nada, nem caminho, nem pessoas, nem aonde ia dormir, pernoitar, é se colocar nas mãos providenciais de Nossa Senhora. E ela cuida de tudo, ela aponta Jesus Cristo”, afirma.
Frei João Paulo fala com experiência. Ele viveu na pele, durante seu peregrinar, situações onde a graça de Deus e a intercessão da Virgem Maria foram sinais de esperança.
“Subindo uma localidade, logo após uma cidade chamada Tocos do Moji, em Minas Gerais, eu percebi que não ia dar conta, que não estava dando conta, que não teria como. E clamei, gritei por Nossa Senhora Aparecida para que me desse forças, me apresentasse uma maneira de terminar essa peregrinação e ela mandou. Encontrei um grupo e adentrei pela fileira, porque dez dias de caminhada praticamente eu fiz sozinho”, testemunha.
“Tivemos muitas dificuldades no caminho. Os pés estouraram, o calçado não era apropriado, (...) calos, peso nas costas, o silêncio muitas das vezes, em determinados momentos, principalmente no ramal de Tambaú, no meio dos canaviais… Não encontrar muitas das vezes ninguém, mas saber que estava sendo cuidado por Nossa Senhora e por Jesus Cristo”
Na caminhada, o religioso renovou sua fé na Virgem Maria, “Mãe da Esperança” (Spes non Confundit, 24), também por meio da ação de outras pessoas, “anjos”, como ele define. Para o frei, elas foram testemunhas da esperança durante a difícil caminhada.
“Todo mundo naquelas cidades, muita das vezes no ponto de acolhida, de peregrinação, todo mundo tem uma história de peregrinação a Nossa Senhora Aparecida. Toda família tem alguém que já foi a pé, trezentos, quatrocentos quilômetros até o Santuário Nacional. Então foi um redescobrimento da fé do brasileiro”, recorda.
Após finalizar a caminhada, ela afirma que sua fé foi fortalecida e sua esperança foi renovada. “A principal lição e a alegria é que estamos sendo cuidados”, resume. “Esse Jubileu de Esperança é acreditar que Jesus Cristo cuida de nós. Acreditar que nós não estamos sozinhos, e esperar em Nossa Senhora da Esperança, em Nossa Senhora Aparecida, que nos carrega em seu colo de mãe e nos leva até o santuário das graças, em Jesus Cristo”.
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