Busca

Cookie Policy
The portal Vatican News uses technical or similar cookies to make navigation easier and guarantee the use of the services. Furthermore, technical and analysis cookies from third parties may be used. If you want to know more click here. By closing this banner you consent to the use of cookies.
I AGREE
Salve Regina, a 3
Programação Podcast
Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo Metropolitano de São Paulo Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo Metropolitano de São Paulo  

Cardeal Scherer: Inteligência artificial e paz

Na sua recente mensagem ao mundo no Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica comemora no dia de Ano-Novo, o papa Francisco abordou a questão do ponto de vista da promoção da paz: como a inteligência artificial pode contribuir para a paz no mundo?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Arcebispo Metropolitano de São Paulo 

A inteligência artificial, nova maravilha da ciência e da tecnologia, está cada vez mais presente na vida pública e privada. Não há como não reconhecer que a chegada da inteligência artificial representa o início de uma nova etapa no desenvolvimento da humanidade.

Porém, já são muitas as discussões, em diversos níveis de responsabilidade, sobre a inteligência artificial, e ainda não se chegou a definir certos parâmetros mínimos e básicos que sejam aceitos por todos os interessados na sua produção e uso. É inevitável constatar, pela experiência da humanidade, que as melhores invenções humanas acabaram sempre sendo utilizadas com finalidades opostas: para promover o que é bom, ou para promover o mal. Com a inteligência artificial, que traz um potencial enorme de aplicações, o risco de mau uso também é enorme.

Na sua recente mensagem ao mundo no Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica comemora no dia de Ano-Novo, o papa Francisco abordou a questão do ponto de vista da promoção da paz: como a inteligência artificial pode contribuir para a paz no mundo? Francisco manifesta apreço pela ciência e pela tecnologia, atividades que já ajudaram a comunidade humana a desvendar tantos segredos da natureza e a encontrar a solução para inúmeros e grandes desafios na vida cotidiana. Ao mesmo tempo, a ciência e a tecnologia permitem ao homem estabelecer um controle nunca visto antes sobre a natureza e também sobre a convivência humana.

No entanto, a ciência e as inovações da tecnologia, enquanto atividades humanas, não são neutras, mas condicionadas pela cultura, por interesses e intenções na sua produção e no seu uso. A dimensão ética está presente em toda atividade humana, ligada intimamente às decisões e intenções de quem produz e de quem aplica e usa os conhecimentos conquistados. Não é diferente com as diferentes formas e usos da inteligência artificial, capaz de imitar, reproduzir e até criar ações típicas do homem. Mas é preciso lembrar que ela não deixa de ser um mecanismo que executa comandos dados pelo homem. Mesmo que sejam comandos implícitos, frutos de combinação de algoritmos. A máquina não tem senso ético, nem executa ações com responsabilidade subjetiva. A dimensão ética é do sujeito “real” e humano, e não da inteligência “artificial”.

Surgem daí algumas preocupações com o uso da inteligência artificial. Deixaremos que o mundo seja governado por máquinas, com base em cálculos e previsões que os algoritmos vão produzindo? São elas capazes de captar a realidade complexa do mundo das coisas e de as relacionar entre si com base em critérios de liberdade, vontade, decisão, compaixão, arrependimento, amor, solidariedade? Até onde a aplicação da inteligência artificial deve entrar na privacidade das pessoas e interferir nas suas escolhas livres? Seremos nós os futuros autômatos, enquanto as máquinas comandam nossa vida?

Parecem perguntas sem maior importância, mas elas trazem à reflexão questões humanas cruciais, que se referem à dignidade da nossa condição humana. A inteligência artificial poderá, certamente, melhorar muito o grau de eficiência nos processos e sistemas práticos; mas, tratando-se da pessoa humana, até que ponto pode ser privilegiado o critério da eficiência sem que a dignidade da pessoa humana seja ferida? Além disso, a convivência democrática e pacífica pode ser colocada em risco pelo emprego de critérios nada claros, subjacentes a certas escolhas que interessam a toda a coletividade humana.

Francisco manifesta grave preocupação de que essa nova maravilha da tecnologia venha a ser colocada a serviço da guerra e da produção de armamentos sempre mais sofisticados, capazes da promover a destruição e a morte a distância, como se fosse um espetáculo de cinema para ser assistido. E recorda que os sujeitos moralmente responsáveis não são os sistemas autônomos. A responsabilidade é sempre de quem decide sobre as armas (cf. n.° 6). O papa faz um forte apelo à comunidade internacional para que se estabeleçam limites para o uso da inteligência artificial na produção de armamentos e na guerra. Há também o risco de que tais armas venham a cair em mãos erradas, fora de qualquer controle.

A inteligência artificial precisa ser empregada na promoção da paz e do desenvolvimento humano integral, na superação da fome e da pobreza, das doenças, na proteção do ambiente e na produção de alimentos, no desenvolvimento de sistemas que favoreçam a superação da pobreza e o melhor acesso aos recursos necessários à vida com dignidade. Que o uso da inteligência artificial não aumente ainda mais as desigualdades sociais e econômicas entre os povos e os cidadãos. “O objetivo da regulamentação da inteligência artificial não deveria ser apenas a prevenção de más aplicações, mas também o incentivo às boas aplicações” (cf. n.º 8). A inteligência artificial não deve ser vista apenas como uma preocupação, mas também como uma promessa esperançosa. Dependerá de como a usarmos.

Publicado originalmente no jornal O Estado de S. Paulo em 13 de janeiro de 2024

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

13 janeiro 2024, 14:23
<Ant
Março 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
     12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31      
Prox>
Abril 2025
SegTerQuaQuiSexSábDom
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930