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Sonata n. 15 in Do maggiore "L'Incoronazione di Maria, Regina dei Cieli"
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Cardeal Odilo Pedro Scherer,  arcebispo metropolitano de São Paulo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo 

A religião que agrada a Deus

Ter religião é parte da vivência humana e das suas expressões culturais. Há muitas formas de religião e religiosidade, por meio das quais o homem se relaciona com a transcendência. Se a religião é, contudo, uma manifestação humana importante, na visão cristã, não basta ter religião e religiosidade, mas importa vivê-las de maneira correta.

Cardeal Odilo Pedro Scherer,  arcebispo metropolitano de São Paulo

Algum modo de viver a religião se expressa na tentativa de tomar posse do divino para manipulá-lo e servir-se dele, ao bel-prazer do homem. De certa maneira, essa seria a expressão do desejo de submeter Deus à vontade e aos desejos do homem. Não seria, pois, uma forma correta de viver a religião, mas, sim, um profundo desrespeito a Deus, e revelaria a pretensão de estar acima Dele e de mandar Nele. Definitivamente, isso não pode ser do Seu agrado.

Em outras formas de religiosidade, o homem faz da religião uma fonte de lucro e de busca de prestígio e vaidades. Nesse caso, a referência da religiosidade não é o sobrenatural e o divino, mas o ganho econômico, reduzindo o divino à condição de mercadoria e objeto de transação comercial. Também essa forma de conceber a religião não pode agradar a Deus, e a Bíblia deixa claro que Ele rejeita essa forma desrespeitosa de tratá-lo e de instrumentalizar a religião em vista do lucro material.

Há também formas de religiosidade mediante as quais o homem tenta submeter seu semelhante a um regime de pavor e dependência, ou de sujeição fanática. Nesse caso, não se trata de submeter o homem ao poder e à soberania de Deus, mas do próprio homem. Também essa forma de propor ou viver a religiosidade seria equivocada e perniciosa, pois não levaria a Deus e acabaria produzindo uma espécie de ídolo para colocá-lo em Seu lugar e desviaria para o homem a glória e a sujeição devidas somente a Deus. A verdadeira religiosidade liberta e dá dignidade ao homem, em vez de escravizá-lo e de tirar a sua dignidade.

Há ainda formas de religiosidade meramente formais, reduzidas a ritos exteriores, afirmações intelectuais ou fórmulas cabalísticas, sem incidência na vida pessoal e social. Os profetas do Antigo Testamento e Jesus, no Novo Testamento, são muito críticos em relação a tal forma de religiosidade esquizofrênica e hipócrita. A pretensão de agradar a Deus, sem acolher os seus desígnios e sem obedecer à sua lei, seria profundamente equivocada e falsa.

Qual seria, no entender cristão, a forma correta de viver a religião? Diversos são os elementos da religiosidade bíblico-cristã. Antes de tudo, o reconhecimento sincero e humilde de Deus e de sua soberania sobre o mundo e o homem. O homem não é Deus, nem é igual a Deus, e a soberba humana no trato com o divino e o sobrenatural é das coisas detestáveis diante de Deus. Por outro lado, fazem parte da religiosidade verdadeira a atitude de contemplação, a escuta e a perscrutação da sabedoria e da vontade de Deus a nosso respeito e a respeito do mundo. Essas atitudes levam à adoração e à acolhida do amor misericordioso de Deus para conosco.

Foi Deus que nos amou primeiro e pensou em nós antes mesmo de existirmos. O homem não impõe nada a Deus, mas pode perguntar tudo, quando se deixa envolver de paternidade e familiaridade por Ele. A religiosidade verdadeira leva à obediência a Deus e a colaborar com alegre zelo na sua obra, pois Deus dá ao homem essa dignidade extraordinária.

A religião e a religiosidade, segundo a nossa compreensão cristã, incluem uma referência dupla: Deus e as realidades sobrenaturais de um lado; o homem e as coisas naturais, de outro. Nossa fé nos faz olhar para cima, para os lados e ao nosso redor. Como lembra São João, “não podemos dizer que amamos a Deus, a quem não vemos, se não amamos nosso próximo, a quem vemos” (cf. 1Jo 4,20). Respeito e amor verdadeiro a Deus, sem respeito e amor ao próximo, não existe. E isso inclui também o apreço, respeito e cuidado pela obra de Deus, nossa “casa comum”, como nos lembrou o Papa Francisco na encíclica Laudato si`. A religião e a religiosidade cristã são confrontadas com o Deus Criador, que também é o Deus Salvador, que se encarnou e se fez humanidade, assumindo sobre si a realidade humana para redimi-la. A uma religiosidade que não incluísse a atenção ao homem faltaria muito para ser verdadeiramente cristã.

Fonte: O São Paulo

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