Igrejas continuam seus esforços para restaurar a paz na RDC devastada pela guerra
Por Lisa Zengarini
Apesar dos esforços diplomáticos em curso para restaurar a paz e do empenho dos presidentes do Ruanda e RDC para um cessar-fogo no início desta semana, os combates continuam no leste da República Democrática do Congo (RDC), onde, a 19 de março, o movimento M23 liderado pelos Tutsis tomou a cidade estratégica de Walikale. Walikale, no Kivu do Norte, é a cidade mais a oeste que os rebeldes alegadamente apoiados pelo Ruanda alcançaram no seu rápido avanço desde janeiro, que já invadiu Goma e Bukavu, as duas maiores cidades do leste do Congo.
Encontro dos Presidentes Tshisekedi e Kagame em Doha
Este desenvolvimento ocorreu um dia após um encontro de surpresa entre o Presidente congolês Felix Tshisekedi e o seu homólogo ruandês Paul Kagame em Doha, Qatar, onde apelaram a todas as partes para um cessar-fogo imediato e concordaram que “as conversações iniciadas em Doha devem continuar, a fim de estabelecer bases sólidas para uma paz duradoura”, conforme previsto pelos processos de paz de Nairobi e Luanda iniciados em 2022.
No entanto, estes esforços diplomáticos ainda não se traduziram em paz no terreno. Esperava-se que a RDC e o movimento M23, o principal membro da coligação rebelde da Aliança Rio Congo (AFC), tivessem as suas primeiras conversações directas no mesmo dia em Angola, depois de o governo de Tshisekedi ter revertido a sua recusa de longa data em falar com os rebeldes.
Avanços territoriais do movimento M23
Mas o M23 retirou-se na segunda-feira, 17 de março, atribuindo-o às sanções da União Europeia a alguns dos seus líderes e responsáveis ruandeses. O líder da Aliança Rio Congo, Corneille Nangaa, também rejeitou o apelo de Doha e insistiu que as suas forças não estavam a lutar a mando do Ruanda, ao mesmo tempo que reafirmou a sua exigência de conversações diretas com Kinshasa, dizendo que era a única forma de resolver o conflito. O M23 apelou ao fim do que diz ser a perseguição aos Tutsis no Congo e a melhorias na governação nacional.
Entretanto, o grupo rebelde continua a expandir o seu controlo, tomando medidas administrativas para consolidar o poder sobre as áreas ocupadas. Algumas milícias locais, especialmente no Kivu do Sul, resistiram aos avanços do M23, mas no Kivu do Norte, certas facções alinharam mesmo com os rebeldes, complicando ainda mais a situação.
Os esforços das Igrejas para restaurar a paz apoiados pelo Presidente Macron
No meio da violência em curso, uma delegação conjunta da Conferência Episcopal Nacional do Congo (CENCO) e da Igreja de Cristo no Congo (ECC) está a realizar encontros de alto nível para envolver todas as partes no seu “Pacto Social para a Paz e a Coexistência na República Democrática do Congo e na Região dos Grandes Lagos”, lançado em janeiro.
O roteiro de paz visa primeiro a reconciliação interna e depois a paz regional e já conduziu a encontros com o Presidente congolês Félix Tshisekedi e com os rebeldes do M23. As Igrejas pretendem levar a voz da sociedade civil congolesa à comunidade internacional e, em particular, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. No dia 19 de março, a delegação foi recebida pelo Presidente francês Emmanuel Macron, que manifestou o seu total apoio ao roteiro de paz das Igrejas.
Enorme crise humanitária
Contudo, no terreno, a crise humanitária continua a agravar-se. Cidades como Goma e Bukavu são dominadas pelo medo, e os civis são sujeitos a violência tanto por parte de rebeldes como de elementos criminosos. As forças policiais e governamentais fugiram ou foram dominadas, deixando os residentes vulneráveis a pilhagens, extorsões e execuções sumárias.
A crise dos deslocados internos está a agravar-se, com milhares de mortos e muitos mais obrigados a fugir das suas casas. A fome é galopante e os esforços de ajuda continuam a ser insuficientes devido a restrições logísticas e de segurança.
Para além de uma grande crise humanitária e de deslocações em massa, os combates e a insegurança em curso provocaram o encerramento de escolas e paralisaram a economia local.
As causas profundas do conflito
O actual conflito é o pior no Leste do Congo desde a guerra de 1998-2003 que envolveu vários países vizinhos e resultou em milhões de mortos. Com a participação de tropas da RDC, do Ruanda e do Burundi nos combates este ano, corre-se o risco de evoluir novamente para uma guerra regional mais vasta.
Como foi recordado novamente pelos participantes numa conferência organizada em 20 de março pela Pontifícia Universidade Antonianum e intitulada "Repensar a Paz na República Democrática do Congo", o conflito está enraizado nas consequências do genocídio do Ruanda em 1994 e na competição pelas riquezas minerais, incluindo cobalto, ouro, diamantes e recursos minerais metálicos, situação em que as empresas multinacionais se aproveitam da fraqueza do Estado para os seus próprios interesses - (Fonte: Agência Fides)
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