Dada Masilo - Inovação, recriação e ativismo
Dulce Araújo - Vatican News
Dada Masilo fora uma das convidadas à XXXVI edição de Roma Europa Festival, promovido pela Fundação Romaeuropa. Fora em novembro de 2021. Ela apresentara a obra "Sacrifice" baseada na "Sagração da Primavera " da coreógrafa alemã Pina Bauch e na dança tradicional Twana do Botswana. A particularidade de Dada Masilo era, de facto, a fusão de clássicos do balé com a cultura africana. Foi o que fez também em obras como "Romeu e Julieta", "Giselle" e o "Lago dos Cisnes" .
Nessa altura, dedicáramos a emissão "África em Clave Feminina" de 22/11/2021 a ela e a esse espetáculo que muito agradara aos espetadores, alguns dos quais abordados no fim da quermesse.
Embora não viesse duma família de artistas, Dada seguiu desde pequena a sua vocação pela dança, na qual se formou em importantes escolas tanto na África do Sul, como noutras partes do mundo. A crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) nessa emissão dava conta disso.
Na entrevista que nos concedera, Dada sublinhava que gostava de desafios, e foi nesta ótica que abraçou também a coreografia, inicialmente muito difícil para ela, mas o seu intento foi sempre fundir técnicas diferentes de dança dando origem a novas dinâmicas, a seu ver muito interessantes.
Nessa entrevista explicou também o que quis obter com a obra "Sacrifice" e as técnicas que utilizou, inclusive a música.
Ao saber, com tristeza, da sua morte, não podíamos deixar de homenageá-la no programa "África em Clave Cultural: personagens e eventos" desta semana (13/2/25), precisamente em vésperas do Jubileu dos Artistas (15-18/2/25) no âmbito do Grande Jubileu da Esperança que a Igreja Católica está a viver, e pensar que ela poderia muito bem ser um dos cerca de dez mil artistas inscritos para este Jubileu. Mas fica o seu legado que contribuirá certamente para alimentar a Esperança numa África em caminho para criar pontes culturais e humanas como ela gostava de fazer com as suas fusões na arte da dança. Faleceu, depois de uma breve doença, quando já tinha em preparação uma nova obra artística.
Crónica de Filinto Elísio sobre Dada Masilo (2021)
Dada Masilo – Inovação, recriação e Ativismo
"Dada Masilo é uma coreógrafa e dançarina sul-africana, internacionalmente consagrada, que junta no palco das suas performances a tradição e a inovação, o antigo e o moderno.
As suas interpretações inovam o balé clássico e a dança contemporânea. Fazem também uma bem-sucedida fusão das suas técnicas com as danças africanas para criar um estilo próprio que tem cativado o público em torno do mundo.
Como bailarina, como mulher e como sul-africana, ela se considera uma pessoa livre, com coragem de denunciar a hipocrisia da sociedade através da dança. O estilo é ousado e engajado às grandes causas, nomeadamente contra as descriminações raciais e de género.
Ela nasceu em 1985 em Soweto e ali cresceu. Ainda criança, começa a dançar no grupo da sua comunidade. The Peacemakers. Aos 11 anos, começou a ter aulas na The Dance Factory, uma escola para crianças e adolescentes, com cursos de diferentes danças e que recebia alunos mais pobres e vulneráveis, selecionados através de audições.
"Ninguém na minha família dança, eu sou a ovelha negra da família. No Soweto não tínhamos ballet. Para mim era algo completamente estranho, quando comecei a ter aulas e tinha de usar meias e sapatos cor-de-rosa, tive de me adaptar. Mas eu adorava dançar, adorava o movimento, por isso queria aprender tudo e pesquisar para perceber como o corpo funciona", assim Dada descrevia a forma como aderiu à dança.
Com 14 anos, quando viu a companhia de dança Rosas, da coreógrafa belga Anne Teresa De Keersmaeker, em Joanesburgo, teve uma epifania e fê-la decidir para a escola que Anne Teresa tinha fundado, a Performing Arts Research and Training Studios.
Primeiro, Dada mudou-se para a Cidade do Cabo e morar lá durante um ano para ter aulas na Jazzart Dance Theatre. Aos 19 anos partiu para a Bélgica para fazer audições. Ter conseguido entrar e estudar por dois anos na Performing Arts Research and Training Studios, de Bruxelas, foi uma das suas proezas marcantes.
Depois disso, Dada Masilo regressou à África do Sul, onde criou a sua própria companhia e tornou-se artista-residente da The Dance Factory. Em 2008 o prestigioso prémio Standard Bank Young Artist Award for Dance.
Logo no início da sua carreira recriou versões de bailados clássicos como Romeu e Julieta (2008), Carmen (2009) e O Lago dos Cisnes (2010), interpretando esses clássicos à luz das tradições e das problemáticas africanas.
A sua linguagem coreográfica junta os movimentos do ballet clássico e da dança contemporânea com a dança tradicional. Dada Masilo chama-lhe fusão. Não queria ter uma 'assinatura', mas inovar sempre e passar a mensagem de impacto.
Ela criou um estilo único que cativou o público com reelaborações de grandes clássicos. Dada já criou mais de uma dezena de coreografias e tem sido reconhecida com inúmeros galardões e honrarias, como a láurea da Next Generation Award, em 2018.
Aos 35 anos, Dada Masilo é uma bailarina e coreógrafa, feminista e ativista, oriunda da África que tem vindo a conquistar o espaço da mulher africana em todos os palcos da dança do mundo. "
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